Vamos falar de um assunto que
gera muitas discussões na medicina esportiva e, se seu médico do esporte for
mais tradicional, provavelmente não estará familiarizado com o assunto ou não
acreditará nessa discussão. Sabemos que colágenos em termos de pele, já estão
consagrados, no sentido de que perdemos colágeno à medida que envelhecemos e
utilizamos na estética para prevenir que a pele fique flácida ou enrugada. Mas,
hoje também sabemos que o colágeno é muito mais do que estética. Essa é a
proteína mais abundante no corpo e não temos apenas na pele, mas também no
sangue, nos ossos, nos músculos, na cartilagem e nos ligamentos.
O colágeno atua como um
alicerce estrutural para a maioria dos tecidos moles de nosso corpo, e quando o
colágeno quebra ou está com “defeito”, essa sustentação é enfraquecida e as
estruturas descritas acima enfraquecem, ficando mais fragilizadas (ou flácidas)
na maioria das pessoas. Portanto, o colágeno pode ser útil tanto para proteger
seus tecidos moles e articulações durante o exercício quanto para melhorar sua
recuperação. Isso é especialmente importante para os corredores em termos de
flexibilidade, mobilidade e amortecimento, pois o atleta precisa mover suas
articulações na mesma amplitude de movimento do começo ao fim do treino ou
prova. Se não consegue, pode ficar suscetível a uma redução no desempenho,
sentir dor e até se lesionar.
A boa notícia é que é possível
obter colágeno suficiente através da dieta, obviamente se forem refeições
saudáveis e balanceadas. Isso porque nosso corpo produz colágeno à partir das
proteínas que ingerimos. E isso cada um tem individualizado com seu médico do
esporte, nutrólogo ou nutricionista esportivo. O corpo também pode sintetizar
colágeno, mas requer aminoácidos para isso acontecer. Os aminoácidos são os
blocos de construção do colágeno no corpo, e quatro deles (glicina, prolina,
hidroxiprolina e arginina) estão diretamente envolvidos na produção de
colágeno. Alimentos ricos em proteínas, como carne, frango, peixe e feijão,
fornecem aminoácidos. A vitamina C, que é encontrada em frutas cítricas, bem
como zinco e cobre, também são necessárias para o organismo sintetizar o
colágeno.
Não há como negar que o
impacto da corrida sobrecarrega o corpo, por isso alguns corredores estão se
voltando para pós treino com suplementação de colágeno para um aumento de
desempenho e regeneração tecidual. Na teoria por trás de tomar suplementos de
colágeno, no caso de corredores, há o benefício de reparação e recuperação
muscular após o exercício, assim como a ingestão de outras proteínas podem
ajudar na recuperação pós-treino.
Mas o que a ciência diz? A
suplementação de peptídeo de colágeno mais o treinamento de resistência
mostraram aumentar a massa muscular e força muscular em homens, de acordo com
um estudo publicado no British Journal of Nutrition. Estudos em animais
associaram a suplementação com colágeno hidrolisado ao aumento da massa óssea,
o que poderia ajudar na redução de lesões e melhorar a recuperação, mas mais
pesquisas precisam ser feitas em seres humanos. Por causa dos benefícios que
oferecem às articulações, a suplementação de colágeno também pode reduzir a
dor, de acordo com pesquisa publicada na revista Current Medical Research and
Opinion.
Ainda assim, não são estudos
de longo prazo e em larga escala e não há evidências sólidas de que a
suplementação de colágeno diminui a lesão nas articulações ou aumente a
recuperação dos corredores, o que eu vejo na pratica clínica é que alguns
atletas respondem muito bem á suplementação e outros são indiferentes. O que eu
argumento: temos uma opção para que decidimos juntos, individualmente a cada
consulta a depender de cada questão ou queixa que o atleta traz.
Referências:
1 - https://www.ncbi.nlm.nih.gov/pubmed/26353786
2 - https://jissn.biomedcentral.com/articles/10.1186/1550-2783-10-35
3 - https://www.ncbi.nlm.nih.gov/pubmed/18416885
1 - https://www.ncbi.nlm.nih.gov/pubmed/26353786
2 - https://jissn.biomedcentral.com/articles/10.1186/1550-2783-10-35
3 - https://www.ncbi.nlm.nih.gov/pubmed/18416885
Ana Paula Simões é Professora Instrutora da Irmandade da Santa Casa
de Misericórdia de São Paulo e Mestre em Medicina, Ortopedia e
Traumatologia e Especialista em Medicina e Cirurgia do Pé e Tornozelo
pela Faculdade de Ciências Médicas da Santa Casa de São Paulo. É Membro titular
da Sociedade Brasileira de Ortopedia e Traumatologia; da Associação Brasileira
de Medicina e Cirurgia do Tornozelo e Pé, da Sociedade Brasileira de
Artroscopia e Traumatologia do Esporte; e da Sociedade Brasileira de Medicina do Esporte. www.anapaulasimoes.com.br
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de Ciências Médicas da Santa Casa de São Paulo
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